O BRASIL MULTICULTURAL

RAÇAS E ETNIAS

A luta do movimento social negro pelas cotas nas universidades brasileiras tem despertado uma discussão que pode levar a uma compressão mais racional do que sejam políticas afirmativas para a população de etnia negra, incluindo nesse grupo as Comunidades Remanescentes de Quilombos. Nunca o tema do racismo e do combate às desigualdades raciais esteve t&atgualdades raciais esteve tão presente no debate público brasileiro. Seja no Congresso Nacional ou na mídia, discutem-se propostas e medidas concretas que venham a atender às históricas demandas do movimento negro brasileiro, que há muito vem se organizando e alimentando o debate sobre estas questões. Muitos dos que tem refletido sobre o tema, envolvidos, de longa data, na luta anti-racista, reconhecem que o grande mérito da adoção da política de cotas em alguns setores do governo foi a possibilidade de romper com o imobilismo e provocar o debate sobre as estratégias adotadas.
Entre as manifestações a favor da adoção das políticas de ação afirmativa (incorretamente usadas como sinônimo de cotas), talvez a que tenha produzido maior efeito político tenha sido a declaração do Ministro Marco Aurélio de Mello, presidente do Supremo Tribunal Federal em discurso realizado no dia 20 de novembro de 2001. Tomando como ponto de partida a reflexão sobre o princípio da igualdade, afirma: "A neutralidade estatal mostrou-se um fracasso: (...) e o Poder público deve, desde já, independentemente da vinda de qualquer diploma legal, dar a prestação de serviços por terceiros uma outra conotação, estabelecendo, em editais, quotas que visem contemplar as minorias(...) No sistema de quotas deverá ser considerada a proporcionalidade, a razoabilidade, dispondo-se, para tanto, de estatísticas. Tal sistema há de ser utilizado para correção de desigualdades. Assim, deve ser afastado tão logo eliminadas essas diferenças".

O QUE É CULTURA?

É comum dizermos que uma pessoa não possui cultura quando ela não tem contato com a leitura, artes, história, música, etc. Se compararmos um professor universitário com um indivíduo que não sabe ler nem escrever, a maior parte das pessoas chegaria à conclusão de que o professor é “cheio de cultura” e o outro, desprovido dela. Mas, afinal, o que é cultura?
Para o senso comum, cultura possui um sentido de erudição, uma instrução vasta e variada adquirida por meio de diversos mecanismos, principalmente o estudo. Quantas vezes já ouvimos os jargões “O povo não tem cultura”, “O povo não sabe o que é boa música”, “O povo não tem educação”, etc.? De fato, esta é uma concepção arbitrária e equivocada a respeito do que realmente significa o termo “cultura”.
Não podemos dizer que um índio que não tem contato com livros, nem com música clássica, por exemplo, não possui cultura. Onde ficam seus costumes, tradições, sua língua?
O conceito de cultura é bastante complexo. Em uma visão antropológica, podemos o definir como a rede de significados que dão sentido ao mundo que cerca um indivíduo, ou seja, a sociedade. Essa rede engloba um conjunto de diversos aspectos, como crenças, valores, costumes, leis, moral, línguas, etc.
Nesse sentido, podemos chegar à conclusão de que é impossível que um indivíduo não tenha cultura, afinal, ninguém nasce e permanece fora de um contexto social, seja ele qual for. Também podemos dizer que considerar uma determinada cultura (a cultura ocidental, por exemplo) como um modelo a ser seguido por todos é uma visão extremamente etnocêntrica. 

 

O LUGAR E A MULTICULTURALIDADE

 

O multiculturalismo é o reconhecimento das diferenças, da individualidade de cada um. Daí então surge a confusão: se o discurso é pela igualdade de direitos, falar em diferenças parece uma contradição. Mas não é bem assim. A igualdade de que se fala é igualdade perante a lei, é igualdade relativa aos direitos e deveres. As diferenças às quais o multiculturalismo se refere são diferenças de valores, de costumes etc, posto que se trata de indivíduos de raças diferentes entre si.

No Brasil, o convívio multicultural não deveria representar uma dificuldade, afinal, a sociedade brasileira resulta da mistura de raças – negra, branca, índia – cada uma com seus costumes, seus valores, seu modo de vida, e da adaptação dessas culturas umas às outras, numa “quase reciprocidade cultural”. Dessa mistura é que surge um indivíduo que não é branco nem índio, que tampouco é negro, mas que é simplesmente brasileiro. Filhos desse hibridismo e tendo como característica marcante o fato de abrigar diversas culturas, nós, brasileiros, deveríamos lidar facilmente com as diferenças. Mas não é exatamente isso o que ocorre.

PRECONCEITOS: RACIAL E CULTURAL

 PRECONCEITO RACIAL: SUAS CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS
Considera-se como preconceito racial uma disposição (ou atitude) desfavorável, culturalmente condicionada, em relação aos membros de uma população, aos quais se têm como estigmatizados, seja devido à aparência, seja devido a toda ou parte da ascendência étnica que se lhes atribui ou reconhece. (NOGUEIRA, 2007)
Segundo Florestan Fernandes, em seu livro: A integração do negro na sociedade de classes (1965), explica a existência do preconceito racial na sociedade capitalista competitiva do Brasil por meio de dois argumentos: primeiro, ele seria um resíduo cultural da hierarquia racial da sociedade escravista, fadado a desaparecer com o tempo, ou seja, com o desenvolvimento da própria sociedade capitalista; e segundo, a discriminação ocorreria devido à inadequação do negro à sociedade competitiva, dada sua falta de preparo para as profissões que se abriram a partir do fim da escravidão e a reprodução de um ethos anômico por parte da família negra. Nas palavras do próprio autor, o preconceito e a discriminação raciais são um “atraso cultural” .

 Não é preciso ir tão longe para encontrar quadros de preconceito cultural. Apesar de nós, brasileiros, sermos considerados uma nação pobre, sem identidade, comportamento duvidoso, é possível encontrar pessoas que têm conceitos errados em relação aos seus semelhantes aqui mesmo, no Brasil.

Temos como exemplo a errônea idéia que se faz de um gaúcho, a associação que se faz da preguiça com o baiano, ou da “burrice” com o goiano, também temos a visão primitiva e subdesenvolvida que se tem da região norte, dentre outros.

É fato que o povo Brasileiro não tem uma boa representação no exterior. Normalmente, quando se ouve falar em Brasil, está relacionado a mulatas, samba, Rio de Janeiro (“pontos positivos”), ou a violência, assalto, esperteza, ignorância, subdesenvolvimento (“pontos negativos”). Tais características fazem dos brasileiros alvos do preconceito cultural.

Infelizmente, deparamo-nos com um povo que não se conhece e que, portanto, não tem como passar uma imagem positiva a outros países, nem reclamar o reconhecimento de suas qualidades.